Entrevista com o cineasta Joel Caetano

Não é de hoje que o Brasil vem produzindo boas obras cinematográficas. Mas só nos últimos anos que nosso cinema ganhou um novo ânimo, podendo finalmente, ser considerado um país em ascensão no ramo. Não entrando em detalhes burocráticos, mas não é segredo para ninguém que fazer arte no Brasil é arriscado e requer muita coragem e ousadia. O investimento até existe, mas junto dele vem a falta de liberdade criativa e outros obstáculos que não precisam ser mencionados aqui.

Portanto, nossos sinceros parabéns a todos os guerreiros (as) que praticamente tiram dinheiro do próprio bolso e tempo de onde não tem para fazer o que amam…cinema!

E para falar um pouco mais sobre esta luta, o colaborador Marcos Poli realizou uma entrevista com o cineasta Joel Caetano, onde ele conta um pouco sobre sua trajetória e sobre seu curta-metragem, Gato. O curta é um terror psicológico com ele-mentos trash e gore, então prepare-se para rir e se assustar com esse excelente curta-metragem!

Confira a entrevista, o curta-metragem Gato e não deixem de acompanhar o Artescétera nas redes sociais Facebook / Twitter / Instagram.

Há quanto tempo você começou a trabalhar com cinema?

JC: Há 14 anos, desde que ingressei na faculdade. Montei um grupo com outros alunos para realizar um documentário que nunca foi concluído. No meio do processo, descobri que minha “praia” era mesmo a ficção, que é o que faço até hoje.

De onde veio a inspiração para o ”Gato”?

JC: A inspiração veio do dia-a-dia. Eu trabalho muito em casa, e muitas vezes a Cindy Maria, que é a gata que aparece no filme, me faz companhia. Por ser uma gata bem peculiar e estranha, e por participar de minha rotina diária, imaginei como seria se ela tivesse intelecto, fala, e pudesse intervir no meu dia-a-dia. Esse foi o estalo inicial para a concepção da história, o resto fui complementando de acordo com a necessidade da trama.

Sua produtora chama-se Recurso Zero Produções (RZP). Como é produzir sem muitos recursos?

JC: Nunca foi um problema pra mim. Quando comecei era muito inexperiente e me contentava em ter uma câmera qualquer e um local minimamente iluminado (muitas vezes com uma luz de jardinagem em cima de uma escada). A vontade de fazer era mais forte do que qualquer coisa e não havia pudor em realizar filmes tecnicamente limitados. Naquela época, o mais importante era conseguir terminar um filme interessante para o público. Foi um ótimo período, pois pude experimentar bastante, livre das amarras convencionais de uma forma despretensiosa e ingênua. Usar essa época como uma espécie de laboratório aliado a uma busca constante de aprimoramento técnico por meio de um estudo contínuo, gerou uma evolução natural que resultou numa forma muito singular de produção que desejo estar sempre em desenvolvimento, pois considero que nunca devemos parar de aprender mais e mais a cada dia.

Outro fator que acho importante frisar quanto a isso é que, quanto mais independente for a sua arte, mais liberdade criativa você tem, e por bem ou por mal, usar meus próprios e parcos recursos para produzir meus filmes ajudou-me a perceber que tipo de artista desejo ser, e isso julgo essencial em minha formação. Hoje me sinto mais seguro em buscar outras alternativas de produção, seja por meio de leis de incentivo, editais ou até mesmo financiamento coletivo.

Atualmente, meu principal mantra é produzir filmes simples, mas tecnicamente belos e bem feitos, sem perder a identidade artística. Acredito muito no meu crescimento natural com artista e cineasta, não posso dizer como será o futuro, mas tenho certeza que do que eu quero que é continuar contando boas histórias, independente dos recursos financeiros.

Como é filmar terror no Brasil?

JC: Quando faço um filme, não fico muito preocupado com as dificuldades, mas sim com as soluções que devo criar para que o mesmo tenha êxito. O cinema brasileiro vem passando por uma boa fase e, aos poucos, o público está se familiarizando com produções feitas em nosso país. Como qualquer produção independente, esbarramos muito na falta de recursos, mas com isso, também aprendemos a desenvolver uma forma de produção muito eficaz que acredito, não deixa nem um pouco a desejar.

Em contrapartida, ainda existe um receio enorme por parte do público e investidores em relação ao cinema de gênero nacional, e até entendo, pois realmente nossa produção não só de gênero, por muito tempo foi muito irregular.

Acredito que a forma de quebrar essa barreira seja investir em qualidade dos nossos filmes e quando digo isso não falo somente de recursos financeiros e sim, de capacitação profissional. Hoje em dia, os equipamentos estão ficando cada vez mais baratos, estudar e desenvolver técnicas mais apuradas se tornou mais importante do que ter a melhor câmera do mercado.

Em 2013 fiz um curta chamado “ENCOSTO” com pouquíssimos recursos, com uma equipe bem reduzida, mas com grande capacidade técnica e artística. O resultado não poderia ser melhor: Mais de 60 seleções oficiais em festivais espalhados pelo mundo e 3 prêmios, 2 de Melhor ator e 1 de Melhor Criatura. Só citei esses dados, pois sei que, se corrermos atrás e deixarmos de lado a inércia, podemos provar ao público que sim, temos total condições de se fazer filmes de terror, ação, ficção científica tão bem quanto outros gêneros já consagrados em nosso cinema. Quando isso acontecer, tenho certeza que outras portas se abrirão, como por exemplo a distribuição, que é muito difícil em nosso país.

Em quais países ”Gato” já circulou?

JC: O filme já foi exibido em 31 festivais, diversos no Brasil e em 4 países diferentes, México, Colômbia, Estados Unidos (2 vezes) e Uruguai (2 vezes), onde ganhou o prêmio de Melhor Curta Latinoamericano, no Montevideo Fantástico em 2010. O filme também ganhou os prêmios de Melhor Curta, no júri Popular noCinefantasy 2009, Melhor Direção no Espantomania 2010 e Melhor Curta, Melhor Roteiro e Melhor Ator no Guarú Fantástico em 2010.

Já pensou em fazer uma continuação ou um longa a partir do enredo do ”Gato”?

JC: Não acho que seja necessário. Quanto ao longa, acredito que tenham histórias que só funcionam em um curta, é o caso de “GATO”.

Tem algum nome no cinema mundial que te sirva de inspiração ou admiração?

JC: Tem vários, mas vou citar um cara que, pra mim, não só serviu de inspiração mas se tornou um mestre depois que trabalhei com ele, José Mojica Marins. Só posso defini-lo com uma palavra: Gênio!

Qual a dica que você dá a quem está começando?

JC: Que a melhor forma de aprender é fazendo, errando e tentando aprender com os erros. É meio clichê, mas funcionou comigo.

Tem algum novo projeto? Se sim, pode nos adiantar algum detalhe?

JC: Estou lançando 2 trabalhos: O primeiro é “JUDAS”, um curta-metragem da RZP Filmes que conta uma história de terror sobre a malhação do boneco de Judas baseado em fatos que ocorreram na minha infância. O filme está indo muito bem em festivais, já foi selecionado para eventos como o CINE OP, Fantaspoa, Mondo Estronho, MFL, Fantafestival (na Itália), Calgary Horror Con (Canadá) entre outros. O outro filme é o longa-metragem “As Fábulas Negras, uma antologia de histórias dirigidas por 4 diretores diferentes, produzida por Rodrigo Aragão. A minha história é “A Loira do Banheiro” em uma roupagem bem particular, explorando o horror em uma atmosfera de sustos e mistério. Nesse filme, além de escrever e dirigir esse segmento, fui assistente de direção do grande José Mojica Marins, nosso eterno Zé do Caixão em seu filme “O SACI”, o que foi uma dos melhores momentos da minha vida profissional. O longa ainda conta com histórias de Petter Baiestorf e do próprio Rodrigo Aragão e já passou por festivais importantes como Mostra Tiradentes de Cinema, Fantaspoa e Nocturna na Espanha. Quanto a novos projetos (voltando a pergunta de forma mais específica), estou começando a rascunhar uma história que pretendo transformar em um filme, mas é muito cedo ainda para falar sobre o tema do roteiro. O que posso adiantar é que será totalmente diferente de tudo que já fiz e que espero que seja um longa-metragem. Estou trabalhando também nos roteiros da web-série Zé Chimp – O Agente 666, que é sobre um chimpanzé falante que trabalha para uma agência secreta do governo que cuida de casos sobrenaturais e fantásticos. Espero filmar os episódios na segundos semestre desse ano e lançar até o final do mesmo.

Gostaria de mandar uma mensagem aos leitores do blog?

JC: Bom, gostaria muito de agradecer o espaço e interesse em meu trabalho, dar os parabéns pelo site e pedir a todos os amantes de filmes do universo fantástico que prestigiem o cinema nacional, pois há muita coisa boa sendo produzida.

Filme: GATO
Direção e Roteiro: Joel Caetano
Produção: Joel Caetano e Mariana Zani
Elenco: Danilo Baia, Davi de Almeida, Ivete Zani, Janete Jennel, Jaudir Caetano, Joel Caetano, Luiz Carlos Batista e Mariana Zani.
Ano produção: 2009
Gênero: Suspense e Terror
País: Brasil

Confira o curta-metragem: