Acervo seguirá para instituto da USP e sofrerá radiação ionizante. (Foto: Divulgação/PSA)

Museu de Santo André encaminhará acervo para tratamento com radiação

Técnica utilizada por instituto da USP ataca DNA de fungos e insetos; por conta disso, pesquisas ao acervo serão suspensas até final de março

O Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa enviará, a partir da semana que vem, parte de seu acervo para um tratamento com radiação no Centro de Tecnologia das Radiações (CTR), do Instituto de Pesquisas Energéticas (Ipen), ligados à USP (Universidade de São Paulo), com o objetivo de recuperar documentos do século passado sobre a cidade, então pertencente a São Bernardo, danificados pela ação de fungos e de insetos, como o cupim.

Entre os documentos que passarão pelo tratamento, estão vários livros caixa, com toda a movimentação financeira dos anos 1920 da então Prefeitura de São Bernardo. São dessa época também registros de funcionários municipais e da situação das vias e logradouros, registrados em sua maioria a mão e no nanquim. Uma outra preciosidade que será levada ao CTR é o primeiro livro de editais públicos da região, contendo despachos, nomeações, ordens e avisos de 1930 a 1939, assinados pelos então prefeitos de São Bernardo Armando Setti, Justino Paixão e Felício Laurito. Há no acervo ainda todas as diplomações dos eleitos nas eleições dos poderes Executivo e Legislativo. Depois de “limpos”, parte do acervo voltará a ser armazenado num espaço do Museu, denominado Fundo Câmara.

Para a museóloga Mayra Gusman de Souza, o trabalho de radiação será importante, pois possibilitará “a preservação da história do município e também de toda a região. Não podemos deixar que a ação de fungos e, principalmente, do cupim, destrua todo esse patrimônio histórico. Temos que zelar por toda essa riqueza histórica”, ressaltou.

Acervo seguirá para instituto da USP e sofrerá radiação ionizante. (Foto: Divulgação/PSA)

A técnica utilizada pelo CTR consiste em irradiar com raios gama, proveniente do cobalto-60, os materiais danificados. A radiação atua penetrando o material e atacando o DNA desses insetos e fungos, causando morte celular. A morte dos organismos também se dá através da radiólise, ocasionada pela reação da radiação com a água presente nos seres-vivos. Essa radiação ionizante tratou livros da Biblioteca da Escola de Comunicação e Artes, do Instituto de Química e do Instituto de Estudos Brasileiros, todos da USP. O processo também foi aplicado em parte do arquivo da Biblioteca Mário de Andrade, do Centro Cultural São Paulo, e em obras de arte dos Museus Afro Brasil e de Arte Moderna de São Paulo, o MAM.

O secretário de Cultura e Turismo de Santo André, Tiago Nogueira, valorizou a parceria entre a Prefeitura e o Centro de Tecnologia das Radiações e ressaltou a importância de se manter o acervo do Museu longe da ação de fungos e insetos. “O trabalho em recuperar e livrar essas obras, de caráter histórico, da ação de fungos e insetos, representa um enorme salto de qualidade para a cultura e preservação da memória de Santo André e da região”, comentou.

Em virtude desse tratamento, o acervo do Museu ficará indisponível para pesquisa até o final de março.